Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: Revista Cult

 

MARCELO ARIEL

                      ( Brasil – São Paulo )

 

Marcelo Ariel nasceu em 1958 em Santos. É poeta e ensaísta, autor, entre outros, dos livros Tratado dos Anjos Afogados (Letra Selvagem, 2008), Ou o silêncio contínuo – Poesia Reunida 2007-2019 (Kotter Editorial, 2019) e Nascer é um incêndio ao contrário (Kotter Editorial, 2020). Morou durante quarenta anos em Cubatão e hoje vive em São Paulo. Com a palavra, o próprio autor:

"Uma escritora, um escritor nascem por uma demanda da comunidade em que vivem. Se eu não houvesse vivido em Cubatão, não teria escrito uma linha sequer. Com minha mudança para São Paulo, o que era local se adensou ao invés de se dissolver. Ser escritor é como ser um nômade psíquico. Dante gostava de se apresentar como 'Dante de Rimini', o que podemos interpretar como 'você é uma cidade quando escreve', é uma floresta. Sou um quilombo quando escrevo. Se você se refere a reconhecimento do meio literário, isso é uma quimera que só se desfaz quando você morre e se torna sobrenatural como a fonte de tudo o que foi escrito. Atuo em uma faixa de margem, sinto que meus livros fazem nesse rio da literatura um movimento de rebojo. Dito isto, tento escrever dentro de uma certa 'metafísica da biografia. Até o momento as principais manifestações desse movimento foram os meus livros."

Autor da plaquete: As três Marias no túmulo de Jan Van Eyck (fevereiro 2022) 

BABEL  Revista de Poesia, Tradução e Crítica.  Ano IV - Número 6 - Janeiro a Dezembro de 2003.  Editor Ademir Demarchi.   Campinas, São Paulo                                Ex. bibl. Antonio Miranda

 


Dostoievski e Tolstoi
(um diálogo)

 

Dostoievski: A idéia de Deus é o centro irradiador do horror
metafísico
Tolstói: E a existência do homem é o quê?
Dostoievski: Tem razão, nesse caso podemos excluir Deus.
Tolstói: A sensação da ausência de Deus é mais acessível do
que a certeza de sua presença.
Tolstói: Ora... Nós somos a ausência onde se inicia a presença
como idéia.
Dostoievski: É melhor acreditar que uma harmonia secreta
domina.
Tolstói: Isso seria a fonte de um riso infinito entre as estrelas.
Dostoievski: Maior que o horror metafísico!
Tolstói: (após um silêncio enorme que inclui você) Deus é a
fonte de todas as coisas.
Dostoievski: E o homem é seu meio.
Tolstói: Exatamente: o homem é apenas o meio...

 

Foto: http://www.sindipetrolp.org.br/

 

Vila Socó libertada

(Depois do fogo)
No outro dia
(sem poesia)
as crianças (sub-hordas)
procuram no meio do desterror
botijões de gás para vender.
Um menino indianizado
encontra uma geladeira
pintada por Pollock
Dentro o cadáver de uma grávida
Incinerado
Com a barriga estourada
A mão do feto
Devorado
(Por Saturno)
atravessa as tripas
sai para o fora do fora
ali ao lado
onde o silêncio do menino
é calmo
(a quietude neutra avalia o inconsolável)
Um jornalista — a cem metros do projeto
Caminha
(a câmera-sombra focando um canto)
atrás dele
um rapaz
que julga ver nos escombros
um Lázaro
ele corre e ao agarra um braço,
o braço vem junto e ao ser largado no ato,
por um instante entre o chão
e o espaço é fotografado
pelo pai de um
dos meninos do gás,
na foto revelada:
uma realidade
desfocada
(sem mortos, vivos ou paisagem)
tudo é uma névoa-nada.

CONTRASTE DA AMÉRICA: antologia de poesia brasileira. Organizador Djami Sezostre. São Paulo, SP: Editora Laranja Original, 2022.    189 p.  ISBN   978-65-86042-40-5.
Ex. biibl. Antonio Miranda

 

BLAKE IN LOVE

A loucura das visões é rara
poucos conseguem sustentar uma visão
que se converte em pensamento autônomo do mundo
por isso é difícil que em nossa época apareça um
Ezequiel
ou um Heidegger capaz de atravessar o abismo
e entrar outra vez no jardim.


COMO SER UM NEGRO


começa
tenho 09 anos
costumo ser
convocação  para comprar cigarros nas padarias para
as ondinas do puteiro, esta situação
vem da Fenícia ou do Egito
a iluminação pelos signos
não aprendemos a ler e escrever na escola, foi a vizinha
a negra Dona Marlene me ensinou
quando cheguei no sistema escolar
aprendi que um avanço para nós
é visto como um atraso, um acidente    
por muitos, os que trabalham para o opaciamento do sublime,
no senso comum,
tudo parece ser regido pela perda
do ser do tempo, do ser do espaço, do ser-do-ser
em nós há um Pássaro
que jamais canta
por isso jamais saberemos nosso verdadeiro nome
um pássaro transparente
e um pensamento jamais pronunciado que é como uma libélula
aos 09 anos aprendemos a jamais pronunciar o nome desse
silêncio
ensurdecedor, quis dizer sempre outra coisa
a perder por delicadeza
e isso é parte do aprendizado
sobre o Sol
chamado

 

*

Página ampliada e republicada em julho de 2023



 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar